domingo, agosto 13, 2006

PARA UMA EDUCAÇÃO LIBERTADORA





Pertencemos a uma sociedade capitalista por excelência, onde quem tem maior poder aquisitivo não só exerce mais influência, como também possui as melhores oportunidades, evidenciando a existência de ‘dominadores’ e de ‘dominados’. É entre esta bipolaridade que formamos nossas crenças e nossos valores; e é dentro destas crenças e valores que a educação, tal como é conceituada, surge para denunciar as desigualdades que caracterizam tão cruelmente o meio social em que vivemos.

Para Paulo Freire, “a pedagogia dominante é a pedagogia das classes dominantes” e, sendo opressora, não pode atender à libertação dos oprimidos. Desta forma, a conquista de uma educação libertadora deve partir do próprio oprimido, descobrindo-se como sujeito de sua história, a qual poderá contar e escrever com as palavras de seu mundo.

Partindo do relato acima podemos dizer que as camadas mais pobres da sociedade não estão conseguindo espaço para contar sua história, sendo deixadas no quase total esquecimento, às margens desta mesma sociedade na qual estão inseridas. É como se duas realidades coexistissem lado a lado: uma, com amplas possibilidades de progresso; outra, cujo acesso às necessidades básicas é precário, onde a única possibilidade para progredir ainda é a escola.

Como chegar a uma educação libertadora diante das desigualdades que conduzem ao fracasso escolar justamente crianças provenientes das camadas populares? A cada ano, o número de alunos reprovados, expulsos ou que abandonam a escola cresce assustadoramente. Entretanto, estes problemas não atingem da mesma maneira crianças de diferentes meios sócio-culturais.

Fala-se muito em ‘inclusão’ atualmente. Mas a verdade é que existem muito mais excluídos do que incluídos na sociedade e, conseqüentemente, na escola. As crianças pobres, em sua imensa maioria, são de fato excluídas da escola por não “atingirem” o mínimo desejado para seguirem em frente; podemos dizer que se aprenderam alguma coisa foi justamente a considerarem a si mesmos como inferiores aos outros, aos que atingiram sucesso.

De que maneira uma criança proveniente de um meio sócio-econômico desfavorecido das mínimas condições habitacionais, onde o saneamento básico é precário, o desemprego de seus pais é, infelizmente, uma realidade e os cuidados com a saúde são esquecidos, pode alcançar os objetivos traçados pela escola? Como a escola pode ser libertadora para essa criança sem levar em conta toda a história que ela traz consigo?

Ao que parece, a escola não foi pensada para os pobres; foi pensada para um aluno ideal, um aluno que não precisa trabalhar para ajudar no sustento da família, um aluno que se expressa sempre com as palavras corretas, que pode estudar em casa com calma.
A escola que temos hoje estabelece normas “disciplinadoras”, elabora currículos padronizados, sem levar em conta o contexto social e cultural do aluno. Apesar de estar situada no tempo e no espaço do século XXI, continua a não perceber seu aluno como ser único, dentro de uma realidade também única que, por sua vez, está inserida num contexto maior que é o mundo.